O MENINO DO PIJAMA LISTRADO.
Produção: Mark Herman. Los Angeles: Miramax Films, 2009, 1 DVD (94 min.)
Filmes que contam a história da Segunda Guerra Mundial e do holocausto sempre foram feitos focando-se nas barbáries cometidas ou na posição de quem estava certo ou errado. Não que “O menino do pijama listrado”, filme baseado no livro de John Boyne, fuja a esta regra, mas o faz trazendo a sutileza e o carisma de seus protagonistas.
O protagonista é apresentado em uma cena de brincadeira com os amigos pelas ruas de Berlim, onde o pequeno Bruno (interpretado magistralmente pelo ator Asa Butterfield) imita um avião, correndo com os braços abertos e fazendo alguns sons característicos. Logo nas primeiras cenas somos apresentados a toda sua família: seu pai, um militar do alto escalão da ditadura de Hitler; sua mãe, a esposa conivente e sem voz e sua irmã, a quem o menino nutre uma relação de amor e ódio, típica das crianças de mesma faixa etária.
Com a promoção patriarca, toda a família é obrigada a se mudar para um campo de concentração nazista e é nesse cenário que a narrativa se desenvolve.
Assim que chegam à nova residência, o garoto começa a entender que sua vida não será a mesma e que a liberdade que tinha na cidade grande não será a mesma por ali. Em um ambiente cercado por oficiais do exército alemão, as poucas opções de divertimento que restam ao pequeno Bruno são seus livros de aventura e a arte da exploração. Porém, até mesmo destes prazeres o garoto é privado, pois seu novo professor o instiga a se tornar um jovem hitlerista, opção obrigatória de todo alemão daquela época, abandonando seus apaixonantes livros. Resta ao garoto a diversão de explorar. Mesmo esta brincadeira é controlada, pois não é possível sair dos muros de sua residência. Nada que nosso herói não consiga contornar. Assim que faz sua primeira incursão aos arredores de seu mundo, o garoto depara-se com a cerca do lugar que ele viu pela janela do seu quarto e que acredita ser uma fazenda muito estranha, pois todos vestem pijamas listrados.
O filme apresenta, por trás da cerca, seu co-protagonista, o pequeno Shmuel (Jack Scanlon) que é que a versão oprimida de Bruno. Um garoto judeu de olhar triste que vive dentro de um campo de concentração onde o pai de Bruno é o chefe. Enquanto Bruno questiona sobre a vida e a diversão de Shmuel, o personagem do título do filme questiona sobre algo para comer. É ali o primeiro de muitos impactos que a película apresenta sobre a forma de opressão à qual um garoto de nove anos é obrigado a sobreviver. Fica visível também, durante a narrativa, que nem o pequeno alemão, nem o pequeno judeu estão conscientes da situação sócio-política em que estão inseridos.
No encontro dos garotos ressalta-se o belíssimo trabalho de direção de Mark Herman, que consegue transmitir a diferença de vida dos garotos apenas com a imagem da cerca. Sempre que Shmuel é mostrado, a cerca aparece em sua frente, deixando ao espectador a certeza de que o garoto está, literalmente, atrás das grades. Importante destacar que à medida que a amizade entre os garotos vai se fortalecendo, esta diferença de filmagem desaparece e a cerca passa a ser filmada tanto com Shmuel como com Bruno.
As atrocidades cometidas contra os judeus não são apresentadas com imagens, apenas citações e sons são utilizados, o que reforça a delicadeza e a inocência do filme.
Com um desenrolar envolvente e um final emocionante, “O menino do pijama listrado” pode ser considerado como a melhor fábula atual sobre a amizade e inocência entre duas crianças que vivem em mundos conflitantes entre si.
Raphael Borges
ResponderExcluirEu n assisti, mas pela sua resenha entendi bem o filme e fiquei curioso pra saber o final :)
Bom texto tem futuro hehe